Companhia resultante da associação entre as duas
gigantes do agronegócio deverá comercializar de 25% a 30% do volume total de
açúcar negociado no mundo
Mônica Scaramuzzo | Jornal O Estado de São Paulo | 27 de
Março de 2014
SÃO PAULO - A americana Cargill e a brasileira
Copersucar anunciaram nesta quinta-feira um acordo para unir suas atividades
globais de comercialização de açúcar em uma joint venture, que criará a maior
companhia global integrada de produção e exportação da commodity. A nova
empresa, na qual os dois grupos terão 50% de participação, não incluirá a união
de ativos das companhias.
Os negócios de etanol e os ativos das duas
empresas, como terminais portuários e usinas, ficam de fora dessa transação. A
formação da joint venture depende de aprovação das autoridades regulatórias,
esperada para o fim do segundo semestre deste ano. Até lá, as duas empresas vão
manter a comercialização do açúcar de forma independente.
A expectativa é de que a nova companhia, cujo nome
será anunciado após as aprovações dos órgãos antitrustes dos principais
mercados onde as duas empresas atuam, deverá comercializar de 25% a 30% do
volume total de açúcar negociado no mercado global, segundo especialistas
ouvidos pelo Estado.
A Cargill é a maior trading global de açúcar e tem
como concorrentes as francesas Sucden e Louis Dreyfus, além da inglesa ED&F
Man.
Atualmente, cerca de 55 milhões a 60 milhões de
toneladas de açúcar são negociadas no mercado global. O Brasil é o maior
produtor mundial da commodity, com uma produção estimada na safra 2013/14 em
37,5 milhões de toneladas, das quais 25 milhões de toneladas são exportadas.
Com 47 usinas associadas, a Copersucar
comercializou na safra 2013/14 cerca de 8,5 milhões de toneladas de açúcar. Deste
total, 6,8 milhões de toneladas foram exportadas. A empresa deve encerrar esta
safra com faturamento de R$ 25 bilhões, incluindo a receita da Eco-Energy,
trading americana de comercialização de etanol, da qual o grupo é controlador.
A Cargill, cujo faturamento global é de US$ 137 bilhões, negocia entre 8
milhões e 10 milhões de toneladas de açúcar, segundo analistas de mercado. As
duas companhias, contudo, não divulgaram projeções do volume que será
comercializado a partir da joint venture.
As atividades de trading de açúcar da nova empresa
serão sediadas em Genebra, na Suíça. A nova companhia terá escritórios em Hong
Kong, São Paulo, Miami, Delhi, Moscou, Jacarta, Xangai, Bangkok e Dubai, mesmas
cidades onde a unidade de açúcar da Cargill já atua.
Integração. "Essa operação cria a maior
empresa integrada de açúcar, unindo a produção e destino. As associadas à
Copersucar processam cerca de 140 milhões de toneladas de cana. Já Cargill,
como maior trading global, tem expertise na negociação de frete e destino da
commodity", afirmou Plinio Nastari, da consultoria sucroalcooleira
Datagro.
"A Copersucar é forte internamente (no
Brasil), enquanto a Cargill é vista melhor no mercado internacional. A
logística da Cargill é fantástica em diferentes commodities, então é um caso de
ganha-ganha", disse o analista Claudiu Covrig, da Platts Kingsman.
Em comunicado ao mercado, Luis Roberto Pogetti,
presidente do conselho de administração da Copersucar, informou que "com a
nova empresa, a Copersucar reforça sua estratégia de consolidar sua presença
global no mercado de açúcar". Olivier Kerr, vice-presidente corporativo da
Cargill, afirmou que "a comercialização combinada com a presença global
dessa nova joint venture oferecerá aos clientes um entendimento único do
mercado global".
Incêndio. Em outubro passado, a Copersucar sofreu
um baque após um incêndio ter atingido os seis armazéns usados pela companhia
no Terminal Açucareiro da Copersucar (Tac), em Santos (SP), comprometendo os
embarques programados da commodity pela companhia. O incêndio destrui cerca de
180 mil toneladas de açúcar.
Com participação acionária em três usinas no
Brasil, a Cargill não conseguiu deslanchar seus negócios como produtora de
açúcar no País. A gigante, uma das maiores empresas de agronegócios do mundo
com capital fechado, também opera no Brasil o Terminal de Exportação de Açúcar
a Granel (Teag), em Santos, em conjunto com outras empresas. Entre as áreas de
atuação global, a empresa é uma das líderes na comercialização e processamento
de grãos e oleaginosas. /COM REUTERS