O objetivo é ser a maior companhia de logística
integrada do país
Mônica Scaramuzzo | Jornal O Estado de São Paulo | 19
de Maio de 2014
Trem da ALL: a empresa terá de tomar mais dívida para superar os desafios |
São
Paulo - Ele fez fama e (muita) fortuna com açúcar e álcool. Durante anos
conhecido como "rei do etanol", o empresário Rubens Ometto Silveira
Mello tem agora em suas mãos uma bucha de canhão.
Caberá
ao grupo Cosan, do qual é controlador, transformar a
endividada América Latina Logística (ALL), que tem boa parte de sua malha e ativos
sucateados, em uma concessionária ferroviária eficiente.
Os
desafios não serão poucos. Para promover essa virada, na avaliação do mercado,
a empresa terá de tomar mais dívida. Só dessa forma ela conseguirá atingir seu
objetivo: ser a maior companhia de logística integrada do País. A dívida
líquida da companhia no primeiro trimestre do ano somou R$ 4,6 bilhões.
Idealizada
para ser o grande veículo de escoamento da safra brasileira de grãos do
Centro-Oeste para o Porto de Santos, a ALL deu dor de cabeça ao governo e foi
alvo de bombardeios de todos os lados.
Os
problemas foram em boa parte atribuídos à gestão errática e à dificuldade da
companhia em dar vazão a todos os contratos firmados com clientes, afirmam
fontes.
Muitos
dos críticos da ferrovia apostam que, sob a gestão da Cosan, a nova Rumo-ALL
conseguirá fazer valer o peso de sua responsabilidade, que é tornar mais ágil o
agronegócio da porteira para fora.
"A
trajetória do grupo Cosan, que protagonizou os principais movimentos de fusões
e aquisições nos anos 2000 para se tornar líder no setor sucroalcooleiro e se
verticalizar no segmento de combustíveis, foi de sucesso. Agora, a companhia
tem pela frente sua prova de fogo para se consolidar como um grupo de
infraestrutura e energia", diz Herbert Steinberg, sócio da consultoria Mesa
Corporate.
As
negociações que culminaram na mudança de controle da ALL não foram nada fáceis.
Foi uma novela, que durou dois anos, com muitas idas e vindas, disputas na
Justiça e mudanças no meio do caminho, até chegar na proposta apresentada pela
Rumo, subsidiária da Cosan, em 24 de fevereiro, na qual o grupo assume o
comando da companhia.
A
nova Rumo-ALL aguarda agora o aval do Conselho Administrativo de Defesa
Econômica (Cade) e da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) para
pôr em marcha um ambicioso plano de expansão, com investimentos de R$ 7 bilhões
nos próximos cinco a sete anos, segundo fontes de mercado.
Divisão
O
grupo Cosan também vai se separar em dois negócios - infraestrutura, com a nova
Rumo-ALL, e energia, que abarca as seguintes divisões: Raízen (distribuição de
combustíveis e produção de açúcar e etanol), Comgás (gás canalizado), Radar
(propriedades rurais) e lubrificantes.
"Nós
vemos uma segregação cada vez maior porque enxergamos tipos de investidores
diferentes, objetivos e dinâmicas diferentes entre esses dois negócios",
diz Marcos Lutz, presidente do grupo.
Essa
mudança começou a ser desenhada em meados dos anos 2000. Pragmático, Rubens
Ometto percebeu que ser "apenas" líder no volátil mercado de açúcar e
álcool seria um tiro no seu próprio pé. Foi um trabalho de desapego, muito
incomum em empresas familiares.
"A
verdade é que sempre acreditei no setor de açúcar e álcool. Tentei a vida
inteira trazer meus pares para trabalhar, juntos, no desenvolvimento do mercado
internacional. Via muita sinergia nessa união, mas sempre fui mal interpretado.
Chegou uma hora que cansei", diz Ometto.
Para
dar essa guinada, foi a mercado buscar executivos de calibre pesado - assim,
como ele, estilo linha dura. Ex-CSN, Lutz entrou em 2007 e ajudou Ometto a dar
forma à companhia de infraestrutura. Marcelo Martins, vice-presidente de
finanças e relações com os investidores, se juntou ao time no mesmo ano para
coordenar o processo de fusões e aquisições e gestão financeira.
Julio
Fontana Neto, que transformou a MRS de uma ferrovia deficitária em companhia
lucrativa, chegou em 2009 para colocar a Cosan literalmente nos trilhos.
"Estar em uma negociação do lado oposto da Cosan é muito difícil. Eles são
uns tratores", diz uma fonte.
O
time da Cosan - resultado da contração dos nomes das usinas Costa Pinto e Santa
Bárbara - não só consolidou a companhia como maior produtora de açúcar e álcool
do Brasil, como promoveu a diversificação da empresa.
Com
forte DNA em aquisições, o grupo segue analisando novas frentes nos setores em
que já atua: quer continuar crescendo, mas sem perder o foco. As informações
são do jornal O Estado de S. Paulo.