Para evitar a perda de associados, a principal
entidade do setor de açúcar e de etanol vai redefinir o orçamento, o quadro
pessoal e a sua agenda
Jornal
O Estado de São Paulo | 09 de Maio de 2014
RIBEIRÃO PRETO - Principal entidade do setor
produtivo de cana, etanol e açúcar, a União da Indústria de Cana-de-açúcar
(Unica) prepara a maior reestruturação interna em seus 17 anos de existência.
Com uma das piores crises setor sucroalcooleiro, a
Unica deve reduzir em mais da metade o orçamento anual. Ele já foi de R$ 40
milhões, está em torno de R$ 23 milhões e irá para pouco mais de R$ 10 milhões.
Consequentemente, haverá uma redefinição da agenda, da atribuição e do quadro
funcional.
No próximo dia 20 de maio, na reunião que deve
alçar o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues à presidência do conselho
deliberativo da Unica, representantes das cerca de 120 usinas associadas
avaliarão, ainda, a redução na contribuição das empresas e o corte
orçamentário. As medidas tentam deter a debandada de associados, preservar
usinas em dificuldades, hoje insatisfeitas com o valor cobrado e, no futuro, a
atrair novas empresas ou o retorno das dissidentes. "A questão principal
não é quem fica ou quem sai, mas qual será a agenda da Unica e a quais
atividades vai se dedicar com outro orçamento", disse uma representante da
associação ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado.
A diretora presidente da Unica, Elizabeth Farina,
confirmou que a reestruturação, iniciada timidamente em março com o fechamento
do escritório em Ribeirão Preto (SP), será ampliada por causa das dificuldades
do setor sucroalcooleiro. "Algumas usinas não estão tendo geração de caixa
suficiente para pagar funcionários nem para manter a associação com a
Unica", reconheceu a executiva.
Para o conselheiro da Unica e diretor de
Cana-de-Açúcar do Grupo Tereos Internacional, Jacyr Costa Filho, a forte redução
nos custos da entidade é uma adaptação à realidade do setor. A política de
restrição aos aumentos da gasolina, adotada pelo governo, a consequente perda
de competitividade do etanol sobre o combustível de petróleo, bem como a queda
no preço do açúcar levaram ao fechamento de dezenas de usinas e outras à
recuperação judicial.
Novo discurso. A Unica também mudou o discurso político e o trato
com o governo federal. A tradicional postura de cautela foi substituída por
contestações e ataques ao governo e a Petrobrás. Na primeira delas, em 15 de
abril, a Unica criticou as declarações da presidente da Petrobrás, Graça
Foster, de que o setor sucroenergético não ofertava mais etanol por falta de
investimentos na produção.
Em nota, a Unica classificou as declarações
"artifício de linguagem, utilizado para inverter a ordem dos
acontecimentos e justificar os danos causados ao setor sucroenergético"
pelo governo federal, controlador da Petrobrás. / GUSTAVO PORTO, FRANCISCO
CARLOS DE ASSIS E JOSÉ ROBERTO GOMES