Renée
Pereira
| Jornal O Estado de São Paulo | 25 de Abril de 2014
Projeto
da companhia americana pode reduzir em até 20% o tempo de viagem até a Europa
A gigante americana Bunge inaugura hoje uma nova
rota de exportação no Brasil. O complexo portuário Miritituba-Barcarena, no
Pará, vai ajudar a desafogar os portos do Sul e Sudeste e elevar a capacidade
de transporte da Região Norte - sonho antigo dos produtores de soja e milho do
Mato Grosso. A expectativa é que o novo caminho reduza em 20% o tempo de uma
viagem para a Europa e, consequentemente, diminua o custo logístico.
O complexo, que exigiu investimentos de R$ 700
milhões, é formado por dois terminais e uma empresa de navegação. Numa ponta,
fica a Estação de Transbordo de Miritituba, localizada nas margens do Rio
Tapajós. E na outra, o Terminal Portuário Fronteira Norte (Terfron), no Porto
de Vila do Conde, em Barcarena. Para fazer o transporte, foi criada uma empresa
de navegação, em parceria com o grupo Maggi. A frota da companhia é de 50
barcaças e 2 empurradores (máquinas que empurram as barcaças).
Até Miritituba, a carga chegará de caminhão pela
BR-163, num trajeto de cerca de 1,1 mil quilômetros. Dali, será colocada em
barcaças que percorrerão outros 1 mil quilômetros durante três dias de viagem -
cada comboio terá 20 barcaças, suficiente para retirar 1 mil caminhões das
estradas. Chegando em Vila do Conde, os grãos serão armazenados no Terfron e,
posteriormente, embarcados em navios de grande curso, rumo à Ásia ou à Europa.
Segundo o presidente da Bunge, Pedro Parente, o
complexo começará a operar com capacidade de 2 milhões de toneladas - o que
corresponde a 5% do que é transportado hoje pela região Norte por outras rotas,
como a viagem de caminhão por toda extensão da BR-163 até os portos do Pará.
Para 2015, a expectativa da companhia é de dobrar esse volume. Para isso, no
entanto, a empresa depende da chegada de mais 40 barcaças e de um empurrador, o
que está previsto para o fim do ano.
"Estamos criando uma rota de exportação muito
próxima dos mercados consumidores. Barcarena está bem mais perto do Canal do
Panamá e da Europa", afirma Parente. O Canal do Panamá está passando por
uma obra de expansão, que permitirá a navegação de navios de maior capacidade.
A expectativa é de que a ampliação esteja 100% concluída até dezembro de 2015.
Rodovia. Parente conta que o projeto está nos
planos da Bunge há mais de dez anos. A configuração atual é diferente do
projeto inicial, que previa apenas a construção de um terminal em Barcarena. Segundo
o executivo, por um tempo, o empreendimento foi suspenso até a retomada da
pavimentação da BR-163. "Há três anos retomamos os planos e agora estamos
entregando o complexo."
O executivo reconhece que a condição da BR-163
ainda não é a melhor para o transporte. Apesar disso, a operação não será
afetada, diz ele. Em fevereiro, o secretário executivo do Ministério dos
Transportes, Miguel Mário Bianco Masella, afirmou ao Estado que cerca de 10% do
trajeto entre Sorriso (MT) e Miritituba (PA)não tem asfalto. Nesse trecho,
havia cerca de 20 km com atoleiros. Na ocasião, ele afirmou que haveria uma
força tarefa, com ajuda do Exército, para cuidar dessas áreas.
Na avaliação de Edeon Vaz Ferreira, coordenador
executivo do Movimento Pró Logística, formado por entidades dos setores
agropecuário, industrial e comercial, a inauguração do complexo da Bunge é o
pontapé para uma série de outros projetos que estão em andamento em Miritituba.
No total, são cerca de dez projetos de estações de transbordo que levarão as cargas
para diferentes portos, como Vila do Conde e Outeiro, no Pará, e Santana, no
Amapá
"Para os produtores, esses empreendimentos
deverão representar uma queda de 34% no custo de transporte comparado ao
escoamento pelo Porto de Paranaguá, no Paraná", afirma Vaz. Por enquanto,
essas rotas devem beneficiar os produtores do Mato Grosso. Mas, no caso da
Bunge, a empresa vai buscar clientes em outras regiões, como Piauí e Tocantins.