Marina Gazzoni | Jornal O Estado de São Paulo | 09
de Abril de 2014
De olho nas altas taxas de
ocupação do segmento e nos desembolsos menores que os exigidos no modelo
tradicional, novos grupos fecham contratos para a construção de hotéis em
espaços aeroportuários; Infraero também estuda oportunidades na área
As empresas de hotelaria encontraram nos aeroportos
uma nova frente de expansão no Brasil. O setor já mantém estruturas no entorno dos
aeroportos, mas apenas dois hotéis estão em operação atualmente na área do
complexo aeroportuário - no Galeão e em Brasília. Há, no entanto, pelo menos
cinco contratos assinados entre empresas de hotelaria e administradores de
aeroportos para construção de novos empreendimentos.
O contrato mais recente foi firmado pela Venture
Capital Investments Group (VCI) com a concessionária que administra o Aeroporto
de Viracopos. Com previsão de inauguração em 2017, o hotel terá 400 quartos e
receberá investimentos de R$ 118 milhões. A bandeira usada é a TRYP by Wyndham,
que pertence ao grupo americano Wyndham, e as diárias devem variar entre R$ 400
e R$ 600.
No projeto inicial, a concessionária pretendia
construir um hotel cinco estrelas no entorno do aeroporto, mas mudou os planos
para um hotel de médio padrão após realizar estudos de mercado, disse o diretor
comercial da Aeroportos Brasil Viracopos, Aluízio Margarido. "Com a
expansão do aeroporto e a chegada de linhas aéreas internacionais, o perfil
pode mudar e poderemos ter mais um hotel", disse Margarido.
Para os investidores, a construção de hotéis em
aeroportos exige desembolsos menores do que o modelo tradicional. O motivo é
que o hotel no sítio aeroportuário é uma concessão e, por isso, os operadores
não precisam adquirir o terreno.
A estimativa do CEO da VCI, Samuel Sicchierolli, é
de que o hotel em Viracopos custaria 40% mais se a empresa tivesse que comprar
o terreno. Em troca do direito de explorar o espaço, a empresa terá de pagar um
aluguel à concessionária - de cerca de 9% sobre o faturamento, neste caso.
"A nossa estimativa é recuperar o investimento entre sete e nove
anos", disse CEO da VCI. O contrato para exploração do hotel vale por todo
o período de concessão do aeroporto, que termina em 2041.
Guarulhos. A VCI levou ainda o contrato para a
construção e gestão de dois hotéis dentro do Aeroporto de Guarulhos, com
investimento total de R$ 120 milhões e que usarão a bandeira Wyndham Grand
Collection.
Um deles será construído ao lado do edifício-garagem
do aeroporto e permitirá que o passageiro chegue a pé ao quarto - a previsão é
concluir a obra em 2016. O outro ficará dentro do novo terminal 3 do Aeroporto
de Guarulhos e será o primeiro hotel alfandegado do Brasil. Ele receberá
hóspedes que fazem conexões para voos internacionais e que podem se hospedar no
hotel sem precisar passar pelos procedimentos de imigração.
Apesar de ter recebido os contratos de dois dos
maiores aeroportos do País, a VCI é uma novata no ramo de investimentos
hoteleiros. A empresa foi criada em 2012 por meio de uma joint venture entre o
grupo Fisa, que faz consultoria estratégia e desenvolvimento de projetos
imobiliários, com a capixaba Valor Finanças Corporativas, focado em captação de
investimentos e estruturação financeira de negócios - o grupo Valor administra
42 fundos com R$ 600 milhões em ativos. A empresa diz que já assessorou 34
empreendimentos, que somam valor geral de venda (VGV) de R$ 1 bilhão e tem
clientes como os grupos de hotelaria Hotusa, da Espanha, e Wyndham.
Atratividade. Outro grupo de hotelaria que está
apostando forte no segmento de aeroportos é a GJP Hotéis & Resorts, do
empresário Guilherme Paulus, fundador e presidente do conselho da agência de
viagens CVC. A GJP já administra o hotel do Aeroporto do Galeão, um contrato
que conquistou em 2011, quando o aeroporto ainda estava sob gestão da Infraero
- ele foi privatizado no ano passado.
A GJP também venceu as licitações para a construção
de hotéis nos aeroportos de Vitória, no Santos Dumont, no Rio, e em Confins, em
Belo Horizonte - antes do leilão do aeroporto. Ao todo, os contratos exigirão
investimentos de R$ 155 milhões e representam metade dos seis hotéis que a
empresa está construindo no momento. "Estudei muito esse mercado. As taxas
de ocupação são altas e queremos disputar novos contratos", disse Paulus.
Segundo ele, o hotel do Aeroporto de Galeão muitas
vezes opera com taxa de ocupação de 105%. A taxa superior a 100% é uma
particularidade de hotéis de aeroportos, já que o hóspede que aguarda um voo de
conexão não fica o período completo da diária, o que viabiliza a locação do
quarto para mais de uma pessoa em um dia. Paulus ressalta que há uma demanda
forte de hospedagem de executivos que fazem conexões e de empresas aéreas, que
precisam de quartos para acomodar sua tripulação e os passageiros afetados por
voos que foram cancelados ou estão atrasados.
Oferta. Além das concessionárias privadas, a
Infraero também está estudando oportunidades para alugar espaços nos aeroportos
para empresas de hotelaria. A Infraero já fez cinco licitações para construção
de hotéis em seus aeroportos e concluiu estudos para abrir outras seis
concorrências.
Segundo o diretor comercial da Infraero, André
Marques de Barros, a estatal vai oferecer hotéis nos aeroportos de Rio Branco,
Joinville, Marabá, Porto Velho, Belém e São Luís. A empresa também estuda
oportunidades nos aeroportos de Curitiba, Porto Alegre, Florianópolis, Foz do
Iguaçu e Londrina.
Barros explica que a concessão dos aeroportos da
Infraero, como Guarulhos e Galeão, à iniciativa privada pressionou a estatal a
buscar novas receitas. "Está no nosso planejamento otimizar receitas
comerciais para compensar as perdas que tivemos com as concessões", disse
Barros. "Hotel, sem dúvida, é uma oportunidade."