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quinta-feira, 10 de abril de 2014

Aeroportos viram frente de expansão para empresas hoteleiras no País

Marina Gazzoni | Jornal O Estado de São Paulo | 09 de Abril de 2014

De olho nas altas taxas de ocupação do segmento e nos desembolsos menores que os exigidos no modelo tradicional, novos grupos fecham contratos para a construção de hotéis em espaços aeroportuários; Infraero também estuda oportunidades na área

As empresas de hotelaria encontraram nos aeroportos uma nova frente de expansão no Brasil. O setor já mantém estruturas no entorno dos aeroportos, mas apenas dois hotéis estão em operação atualmente na área do complexo aeroportuário - no Galeão e em Brasília. Há, no entanto, pelo menos cinco contratos assinados entre empresas de hotelaria e administradores de aeroportos para construção de novos empreendimentos.

O contrato mais recente foi firmado pela Venture Capital Investments Group (VCI) com a concessionária que administra o Aeroporto de Viracopos. Com previsão de inauguração em 2017, o hotel terá 400 quartos e receberá investimentos de R$ 118 milhões. A bandeira usada é a TRYP by Wyndham, que pertence ao grupo americano Wyndham, e as diárias devem variar entre R$ 400 e R$ 600.

No projeto inicial, a concessionária pretendia construir um hotel cinco estrelas no entorno do aeroporto, mas mudou os planos para um hotel de médio padrão após realizar estudos de mercado, disse o diretor comercial da Aeroportos Brasil Viracopos, Aluízio Margarido. "Com a expansão do aeroporto e a chegada de linhas aéreas internacionais, o perfil pode mudar e poderemos ter mais um hotel", disse Margarido.

Para os investidores, a construção de hotéis em aeroportos exige desembolsos menores do que o modelo tradicional. O motivo é que o hotel no sítio aeroportuário é uma concessão e, por isso, os operadores não precisam adquirir o terreno.

A estimativa do CEO da VCI, Samuel Sicchierolli, é de que o hotel em Viracopos custaria 40% mais se a empresa tivesse que comprar o terreno. Em troca do direito de explorar o espaço, a empresa terá de pagar um aluguel à concessionária - de cerca de 9% sobre o faturamento, neste caso. "A nossa estimativa é recuperar o investimento entre sete e nove anos", disse CEO da VCI. O contrato para exploração do hotel vale por todo o período de concessão do aeroporto, que termina em 2041.

Guarulhos. A VCI levou ainda o contrato para a construção e gestão de dois hotéis dentro do Aeroporto de Guarulhos, com investimento total de R$ 120 milhões e que usarão a bandeira Wyndham Grand Collection.

Um deles será construído ao lado do edifício-garagem do aeroporto e permitirá que o passageiro chegue a pé ao quarto - a previsão é concluir a obra em 2016. O outro ficará dentro do novo terminal 3 do Aeroporto de Guarulhos e será o primeiro hotel alfandegado do Brasil. Ele receberá hóspedes que fazem conexões para voos internacionais e que podem se hospedar no hotel sem precisar passar pelos procedimentos de imigração.

Apesar de ter recebido os contratos de dois dos maiores aeroportos do País, a VCI é uma novata no ramo de investimentos hoteleiros. A empresa foi criada em 2012 por meio de uma joint venture entre o grupo Fisa, que faz consultoria estratégia e desenvolvimento de projetos imobiliários, com a capixaba Valor Finanças Corporativas, focado em captação de investimentos e estruturação financeira de negócios - o grupo Valor administra 42 fundos com R$ 600 milhões em ativos. A empresa diz que já assessorou 34 empreendimentos, que somam valor geral de venda (VGV) de R$ 1 bilhão e tem clientes como os grupos de hotelaria Hotusa, da Espanha, e Wyndham.

Atratividade. Outro grupo de hotelaria que está apostando forte no segmento de aeroportos é a GJP Hotéis & Resorts, do empresário Guilherme Paulus, fundador e presidente do conselho da agência de viagens CVC. A GJP já administra o hotel do Aeroporto do Galeão, um contrato que conquistou em 2011, quando o aeroporto ainda estava sob gestão da Infraero - ele foi privatizado no ano passado.

A GJP também venceu as licitações para a construção de hotéis nos aeroportos de Vitória, no Santos Dumont, no Rio, e em Confins, em Belo Horizonte - antes do leilão do aeroporto. Ao todo, os contratos exigirão investimentos de R$ 155 milhões e representam metade dos seis hotéis que a empresa está construindo no momento. "Estudei muito esse mercado. As taxas de ocupação são altas e queremos disputar novos contratos", disse Paulus.

Segundo ele, o hotel do Aeroporto de Galeão muitas vezes opera com taxa de ocupação de 105%. A taxa superior a 100% é uma particularidade de hotéis de aeroportos, já que o hóspede que aguarda um voo de conexão não fica o período completo da diária, o que viabiliza a locação do quarto para mais de uma pessoa em um dia. Paulus ressalta que há uma demanda forte de hospedagem de executivos que fazem conexões e de empresas aéreas, que precisam de quartos para acomodar sua tripulação e os passageiros afetados por voos que foram cancelados ou estão atrasados.

Oferta. Além das concessionárias privadas, a Infraero também está estudando oportunidades para alugar espaços nos aeroportos para empresas de hotelaria. A Infraero já fez cinco licitações para construção de hotéis em seus aeroportos e concluiu estudos para abrir outras seis concorrências.

Segundo o diretor comercial da Infraero, André Marques de Barros, a estatal vai oferecer hotéis nos aeroportos de Rio Branco, Joinville, Marabá, Porto Velho, Belém e São Luís. A empresa também estuda oportunidades nos aeroportos de Curitiba, Porto Alegre, Florianópolis, Foz do Iguaçu e Londrina.


Barros explica que a concessão dos aeroportos da Infraero, como Guarulhos e Galeão, à iniciativa privada pressionou a estatal a buscar novas receitas. "Está no nosso planejamento otimizar receitas comerciais para compensar as perdas que tivemos com as concessões", disse Barros. "Hotel, sem dúvida, é uma oportunidade."