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sexta-feira, 30 de março de 2012

Soluções viáveis Rovena Negreiros, diretora da Emplasa: pela escolha de projetos prioritários

Por Genilson Cezar


A construção de um marco regulatório do planejamento e gestão metropolitana será o principal foco de atuação do governo federal, a partir deste ano, na tentativa de estabelecer critérios para a formação de regiões metropolitanas e para instituir mecanismos de financiamento da política de planejamento urbano que possam ajudar a resolver os problemas das grandes cidades. Como exemplos estão a questão do trânsito, do déficit habitacional e do saneamento.

O anúncio foi feito por Marcel Cláudio Santana, gerente de projetos do departamento urbano da Secretaria de Projetos Urbanos do Ministério das Cidades, durante o seminário "O Futuro das Megacidades", realizado quarta-feira, pelo Valor, em São Paulo.

Segundo ele, o governo está decidido a apoiar os Estados na implementação e elaboração de peças de planejamento e gestão metropolitana. "É preciso criar arranjos federativos que consigam lidar com as mazelas dos municípios que estejam dentro de uma mesma realidade", afirma.

Para Santana, a principal missão do Ministério das Cidades, a partir deste ano, é restabelecer a discussão desse marco regulatório do planejamento das questões metropolitanas. No Congresso já existe uma proposta de criação de um Estatuto das Metrópoles, mas que gera controvérsia. "Temos duas metas: chegar ao final do ano com essa proposta discutida, por meio de um acordo nacional com os Estados e municípios; e avançar numa proposta metodológica de planejamento urbano e gestão metropolitana. Em princípio, o ministério pretende assumir uma missão articuladora dos entes federativos", afirma.

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Não será uma tarefa fácil, adianta ele. "A gente tem uma série de regiões metropolitanas inseridas em dinâmicas próprias. Não há como se definir uma mesma regra para São Paulo e ela valer, ao mesmo tempo, para uma região no Mato Grosso, no meio da Amazônia Legal ou no sertão nordestino", diz.

Outro desafio é instituir um sistema de financiamento das políticas metropolitanas. "Como essas regiões devem se autofinanciar? São os Estados que vão aportar recursos ou será a União? Como vai se dar a participação privada nesse processo?", questiona.

Essa discussão passa pelos vários entes federativos e vai aproveitar experiências de gestão e planejamento em andamento em vários Estados.

Um desses projetos, em estágio já bem avançado, e denominado Plano de Ação Metropolitano, foi apresentado no seminário por Rovena Negreiros, diretora de planejamento da Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (Emplasa).

Trata-se, segundo ela, de um instrumento de planejamento de longo prazo, para subsidiar a atuação governamental permanente e de alto impacto na chamada "macrometrópole paulista" - 173 municípios em um raio de 200 quilômetros a partir de São Paulo, que reúnem 72% da população estadual (30 milhões), possuem 83% do Produto Interno Bruto (PIB) paulista e 28% do PIB brasileiro, detêm 50% da área urbanizada do Estado e ocupam 16% da área total.

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"Esse território será plataforma de integração de políticas públicas e ações articuladas em três áreas prioritárias - mobilidade e logística, saneamento ambiental e habitação", destaca Rovena. É um plano para 25 anos, que se iniciará depois do atual Plano Pluri Anual (PPA) e terá como eixos a conectividade territorial e competitividade econômica; coesão territorial e urbanização inclusiva e governança metropolitana.

Para Rovena, o estabelecimento de um marco regulatório não é fundamental para se obter consenso em projetos metropolitanos. "No que diz respeito à gestão metropolitana, o que importa é a ação política e a capacidade de investimento. Como tradicionalmente os municípios não têm dinheiro para investir, eles são dependentes de programas desenhados ou pelo governo federal ou pelos Estados. É preciso articulação política para estabelecer um pacto de ação para uma escolha de projetos prioritários para as regiões metropolitanas."

A questão da governança metropolitana foi tema bastante discutido no seminário. "A falta de planejamento urbano é um dos maiores desafios das megacidades. É preciso encontrar novas formas de governança que tenhamos um futuro mais sustentável", diz Carlos Leite, arquiteto, urbanista e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, citando como exemplo a região metropolitana de São Paulo, "uma megacidade com altíssimo potencial de expansão, mas também com níveis de crescimento dramáticos".

Os números relativos a São Paulo, de fato, impressionam, segundo o urbanista. Tem a terceira maior população metropolitana do mundo (19,8 milhões), densidade de 24,4 habitantes por hectare (duas vezes a de Nova York), PIB de US$ 381 bilhões, igual ao da Áustria e superior ao da Argentina. "Mas é uma região que enfrenta grandes problemas na área de mobilidade, moradia, inclusão e segurança, entre outros. No setor de moradia, por exemplo, 20% da população vive em favelas e sub-habitações", afirma.

Não significa que inexistam perspectivas de um futuro urbano sustentável, indica Leite. "Existem oportunidades para planejamento de operações urbanas e oportunidades para o redesenvolvimento de imensos territórios num novo modelo", destaca. E isso inclui o que ele chama de megarregião "São-Rio", uma área de 7.240 km 2, que envolve 35 cidades, em três eixos (São Paulo-Campinas, São Paulo-São José dos Campos e São Paulo-Sorocaba), com 26,5 milhões de pessoas. "Trata-se da 26ª megarregião mais oportuna do mundo, de acordo com definição do urbanista americano Richard Florida", comenta o professor Leite.

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Fonte: Jornal Valor Econômico